quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Análise filosófica do filme "A Partida"

  




   Nesses últimos dias estava lembrando de um filme, que tinha visto um bom tempo atrás e fiquei pensando  em falar sobre ele. O nome do filme é "A partida"(Okuribito) do diretor Yojiro Takita, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009. Por achar muito interessante o conteúdo, bastante reflexivo do filme, resolvi contar um pouco dessa visão filosófica. O filme conta a história de Daigo (Masahiro Motoki) um violoncelista que tocava em uma orquestra em Tóquio, um homem cheio de problemas pessoais com passado, que após a dissolução da orquestra se vê sem emprego e é obrigado a voltar para casa da sua mãe uma cidadezinha no interior do Japão junto à sua esposa, com o sentimento de fracasso e cheio de mágoas, principalmente o abandono de seu pai, ele encontra um emprego de "nokanshi" que é uma espécie de agente funerário que prepara os mortos para o velório e a cremação.
  A sacada do filme é apresentar essa relação de vida e morte, ao preparar os corpos, Daigo entra contato com a dor da família do morto, a perda de algo que não é nosso nos faz refletir. Uma coisa importante é que quando perdemos alguém ao qual nós temos uma ligação afetiva, temos aquela falsa sensação de posse da pessoa que se foi, certamente isso nos faz refletir o papel que nós colocamos nessas relações emocionais, de como nós temos uma visão falsa de apego e que nada nos tira essa sensação. Nós geramos dor num campo psicológico bastante complexo quando temos essa visão, a dor que nós geramos com a perda de alguém e uma culpa que nós mesmos colocamos de forma errada, deveria ser entendida como uma  forma de dar a pessoa que se foi, uma liberdade e nós somos livres da dor se quisermos, isso vale também pra quando guardamos mágoas, guardar isso, nos leva a um caminho de sofrimento. Daigo ao se deparar com a morte do pai e toda essa história de ter que lhe dar com os mortos o leva a refletir sobre essas sensações falsas, ele é despertado a um caminho sensível, do valor que tem a vida, entendendo que a morte faz do caminho de todos.

O existencialismo de Sartre




  Sou muito suspeito para falar de Jean-Paul Sartre, por ser um dos meus filósofos favoritos, me atenuo aos fatos e simplesmente me foco a abordar uma de suas obras mais instigantes, "A náusea" de 1938 e seu fator fenomenológico e existencialista. Esse primoroso trabalho do filósofo francês apresenta características niilistas, ele por si só afirma o caráter intimista e de busca existencial que essa obra apresenta. "A náusea" é nada mais nada menos do que essa prisão existencial em que o ser humano se encontra, explicando de forma simples ele acredita que as perguntas sobre o porque de estarmos nesse mundo no leva a beira de uma prisão, tentar escapar disso, e não pensar na existência já torna esse pensamento de caráter existencial.   Na obra, Sartre nos mostra o personagem Antonie Roquentin, um historiador letrado e viajado, que chegando a cidade de Bouville (que metaforicamente representa algo sujo e impuro) com o intuito de escrever a biografia do marquês de Rollebon, se deparando com a vida nababesca e ao mesmo tempo pitoresca do marquês, sua forma que cria uma aversão as pessoas, ele entra em uma profunda crise existencial na qual se depara com o fato do homem sempre se perguntar "Por que e para que existo?". Num trecho, Sartre fala: "Tudo que existe nasce sem motivo, se prolonga por fraqueza e tem um encontro com a morte" isso é bem o estilo de Sartre, seu desapego as coisas mundanas o colocavam a prova de sempre buscar esse existencialismo, para isso ele usa mecanismos de busca da essência humana, passando a atribuir a existência a algo gratuito, ilógico, ilusório e artificial, buscando assim tornar suportável a nossa existência.

   Um desses mecanismos é o que ele chama de "captura do tempo".  Uma organização das memórias de nossa vida, seria atribuída a forma como nos lembramos e assim nos apropriamos dos fatos para que eles se tornem uma "existência ilusória" outro mecanismo que ele descreve é os das "grandes mentes" que dominam as ciências e conhecimento, tendo as explicações mais plausíveis eles dominam o mundo a si mesmo, criando uma falsa ilusão de completude da existência, fazendo uma analogia a Platão, quando fala do homem preso na caverna, ele vê uma "refração" do mundo exterior, mais em vez de estuda-lo se limita a conhecer minuciosamente a sua caverna. Sartre foi acusado de disseminar o ateísmo e através do seu existencialismo e obscurecer o lado luminoso da vida. Para se defender de suas críticas ele se refere ao termo humanismo no sentido de que toda a ação passa pela subjetividade, assim toda a ação é humana, seja repugnante ou não. Ao nos darmos nos noticiários com as injustiças nos perguntamos "isso é humano" mais isso não significa caráter pessimista de suas obras, ao contrário é um questionamento valido na atualidade, diante de tantas atrocidades e sede de justiça; Qual é o papel existencial da vida humana?

O feudalismo: Estruturação do Reino Franco

  


  Depois de tanto tempo, volto aqui para encerrar a série sobre o feudalismo, falando de forma rápida do processo de estruturação do sistema vassálico e a posterior disseminação do sistema feudal. Durante a formação e consolidação do Reino Franco, entre os séculos VII e IX, o modelo de vassalagem real se instaura. O rei tinha a disposição um exército, que atendia uma demanda imediata da proteção do estado no período de guerra. Nesse período, há o que chamamos de um debate acerca da formação das estruturas sociais e fundiárias do começo da Idade Média. Para tais atribuições, o sistema necessitava de uma estruturação para se manter. No momento em que rei Carlos Magno sobe ao poder, cria-se um sistema onde se desenvolve laços de fidelidade, eles tem um papel primordial. O cumprimento de obrigações para com um soberano, implementava um modelo estruturado por cadeias de vassalagem, onde um rei que trazia para perto de sua influência, uma elite aristocrática que detinha terras, aliás, a terra era o maior bem que uma pessoa poderia ter nesse período, ter terras representava que a pessoa era rica. O Império Carolíngio se consolida através desse modelo, fundiário na sua essência, porém firmado numa relação de reciprocidade, onde o soberano dava concessões aos grandes senhores em troca de serviços militares. 
  A dinastia carolíngia subiu ao poder aproveitando a fragmentação dos merovíngios e a ajuda do papado romano. Carlos Magno trouxe um modelo de administração bastante conhecido, que se perpetuou ao fim de seu Império (os ducados, condados e marquesados). Carlos magno conquistou boa parte das terras da parte ocidental da Europa, porém o que se viu foi posteriormente ao seu reinado foi a sua fragmentação. O sistema de vassalagem levou a uma atenuação do distanciamento das elites fundiárias, os grandes senhores detentores de terras passaram a possuir uma concessão do usufruto da terra, como um patrimônio privado. As terras do Império Carolíngio foram divididas entre seus herdeiros, mas como havia uma disputa por poder, boa parte dos domínios dos francos foram perdidos. O esfacelamento do Império Carolíngio se dá a partir do momento em que as antigas nomeações e circunscrições administrativas (condados, ducados, etc.) se transformaram em pequenos estados autônomos do poder real, eles se tornaram assim em uma porção de pequenos "reinos", onde o feudo continuará atrelado ao trabalho compulsório, desta feita sob o comando de um grande senhor feudal.